quinta-feira, 10 de julho de 2008

Tango e cataratas

Escrevo para contar as ultimas aventuras, que infelizmente serào realmente as ultimas em territòrio argentino....

Como sabeis (ou nao), O Carlos e o Juanfer tinham problemas legais com a carrinha, nào podiam sair do paìs com ela. Fomos entao atè Buenos Aires para tentar encontrar uma soluçao junto do embaixador espanhol. Eu e a Evangelina aproveitamos para dar uma volta pelo centro, visto que era a sua primeira vez em Buenos Aires. Là fui em armada em guia mostrando a casa Rosada, Av. Mayo, Av. Corrientes, 9 de Julio e calle Florida... Nao vos equivoqueis quanto ao meu conhecimento de Buenos Aires que è quase nulo mas devido à arquitectura geometrica da cidade è muito facil chegar e voltar aos sitios, assim que apesar de so ter estado 4 dias jà conheço o micro centro. Entre ruas cheias de gente, caros, autocarros encontramos a tipica cena de rua para turistas, um casal bailando o tango! E que casal!!! Um velho de 70 anos, bastante activo e com sorriso de malandro e uma mulher de 30 que poderia figurar num qualquer postal de tango. Foi a primeira vez que vi bailar o tango tao proximo e nao podia deixar de fixar-me nos movimentos das pernas, impressionante!
E agora um pouco de informaçao.... O tango nasce no inicio do sec.XX na zona ribeirinha agora conhecida por Boca. Nos seus primordios era apenas instrumental e as suas primeiras letras eram bastante ordinarias, cantado e bailado apenas por homens que tinham deixado para tràs outro continente em busca de riqueza. O sentimento de perda està sempre presente, a mulher amada, a terra patria... tem um cheirinho de saudade e fado, muda a musica mas o sentimento nem por isso. Entre os anos 20 e 40 surgem os primeiros tangos cantados e Carlos Gardel assume-se como o representante maximo deste estilo marginal. Inicialmente o tango era visto como cultura marginal, de bandidos, emigrantes, exilados mas entre as decadas de 40-60 torna-se mais um produto turistico com grandes orquestraçoes e atraçao dos locais centrais de Buenos Aires. hà quem diga que o Tango morre aì, hà quem o tente resuscitar com novas batidas, Gotan Project, Tangetto, Bajo Fondo.... A verdade è que o tango esta tao vivo ou presente como o Fado em Portugal, mais que um estilo musical è um modo de sentir, de ser.

Voltemos entao à narraçao das aventuras dos dois jovens documentaristas espanhòis. Depois de um dia embebidas na cultura tangueira portenha, com passagem pelo famoso bairro Boca e Caminito, voltamos a casa com vontade de saber o que teria acontecido aos nossos chicos. Pois bem, para que serve a embaixada? Basicamente para nada se nao ès rico ou conhecido.... A unica soluçao que lhes deram foi vender a carrinha. Perante tal situaçao o desanimo era grande e os rapazes por momentos pensaram desistir de tudo e voltar a Espanha!!! Tal pensamento foi apenas momentaneo porque perante tal desanimo, Lei (um amigo argentino) ofereceu-se para sacar a carrinha do pais e acompanha-los em parte da viagem!!! Viva os amigos!!!

Decidimos entao partir em direçao a Puerto Iguazu, onde estao as cataratas. A expectativa era grande, jà tinhamos tentado chegar anteriormente mas o acaso impediu-nos de ver tal maravilha. Là fomos nós cheios de esperança e fè no destino. Fizemos a viagem quase de seguida, parando s'o para dormir (cerca de 1200 km). Quando nos faltavam apenas 400 a carrinha decide deixar de funcionar. Tào perto e tao longe... com a boa vontade alheia rebocaram-nos atè uma oficina e afinal o problema nao era assim tao grave. Seguimos viagem com o coraçao nas maos... a 300 km, durante a noite e depois de passar uma portagem a carrinha para outra vez!!! Nào podiamos acreditar! Eu jà dizia que ia a pè se fosse preciso, mas uma vez mais o destino estava do nosso lado e um dos trabalhadores da assistencia em viagem da auto estrada resolveu-nos o problema!!! Sexta-feira, Puerto Iguazu!! As cataratas estavam a 15km!!! Jà estavamos em pleno clima tropical, quase 30 graus, t-shirt e sandalias!!! Que calor!! Mas o Carlos acordou com problemas de barriga e acabamos por esperar um dia mais para visitar as Cataratas.

Sàbado, 10 da manhà, saimos em direcçao às cataratas e desta vez nada nos pode impedir de chegar. Nao sei o que dizer-vos acerca do sitio. Magnifico, suberbo, ùnico!!! Nao se pode morrer sem visitar as cataratas.... àguas e mais àguas, verde, borboletas que te poisam na cara, arco-iris, macacos, tucanos, salpicos que te molham... uma beleza que hipnotiza. O unico senáo è o turismo massivo mas hà momentos em que è possivel estar sò e deixar-se levar pelo barulho da àgua e a espuma branca que se difunde pelo cèu. Passamos 7 horas andando de um lado para o outro, perdidos no tempo e espaço, absorvidos pelo espanto e o assombro da paisagem. No final do dia o cansaço doce do vivido. Voltariamos no dia seguinte, mas antes de partirmos outra surpresa, a carrinha ficou sem bateria porque deixamos as luzes acesas!!! Empurrar nao serviu de nada mas encontramos alguem com uns cabos que nos fez uma ligaçao e seguimos caminho.

Domingo. Nào voltamos às cataratas porque a ilha estava inacessivel, nao iamos pagar mais 20 pesos para ver o mesmo, assim que decidimos seguir viagem atè às ruinas Jesuiticas de Santo Ignacio. O cèu pintado de nuvens e azul era o fundo perfeito para as imponentes ruinas da missao jesuitica abandonada à mais de 100 anos mas muito bem preservada. Estas ruinas fazem parte de um conjunto de 30 missoes que se espalhavam entre brasil, paraguay e argentina, na zona da selva paaranense, patrimonio mundial da humanidade. Os jesuitas chegaram a mando do espanhois para civilizar os indigenas, acabaram por constituir gigantesca comunidades bastante organizadas e formaram uma especie de auto-governo pròprio, o que assustou os espanhois que acabaram por expulsa-los ou mata-los. Num seculo ergueram-se varias comunidades militarmente organizadas que perante uma ameaça de rebeliao foram extinguidas e a populçao indigena assassinada ou dispersada por vastos territòrios. Esta è outra historia para ser contada noutro momento.

Acabo o relato com a viagem de regresso a Villa Maria, bastante tranquila atè ao momento que quase perdiamos o tube de escape e rebentavamos o motor. As estradas argentinas tem muitos buracos e irregularidades o que provoca perdas inesperada de parafusos essenciais!!! Um vez mais a nossa estrelinha da sorte acompanhou-nos e demo-nos conta que o tube de escape se tinha soltado da junta... Chamamos a assistencia em viagem e 3 porcas e parafusos depois jà estavamos a caminho outra vez.

Agora escrevo-vos desde Comodoro Rivadavia, no sul da Argentina onde vivem os meus tios. Outra vez na fria Patagònia mas por pouco tempo. Domingo estarei de volta a Buenos Aires e terça à noite cruzarei o atlantico para chegar a Madrid. Dia 16 ou 17 estarei de volta à cidade pàtria para festejar com ritmos de drum'n'bass atè que as pernas aguentem.

Atè jà