quinta-feira, 20 de novembro de 2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Velhice, esquecimento, abandondo e solidão

Caros amig@s,

quero partilhar com vocês a minha ultima experiência num centro de cuidados continuados. Estes centros funcionam como apoio a pessoas que saem dos hospitais e não têm condições para voltar para as suas casas. A minha tia teve um problema no joelho este ano e depois de uma aparente recuperação voltou para o hospital em estado grave. Ela encontra-se fora de casa desde Agosto, passou pelo Hospital dos Covões, o centro de cuidados continuados de Cantanhede e agora um perto de Penela. Tenho acompanhado a sua recuperação e as inúmeras visitas obrigam-me a enfrentar a dura realidade da velhice.
Vejos pessoas abandonadas pelas suas familias numa cama de uma instituição onde muitas vezes os cuidados não são suficientes e a formação das pessoas que aí trabalham bastante questionável. Numa sala impessoal juntam-se pessoas com rugas e tristezas, olhares perdidos fixando outras memórias. Assisto a esta solidão partilhada nos sofás do salão com a televisão como pano de fundo. Ninguém presta atenção á tal caixinha, parece que ninguém ali fixa o olhar no que quer que seja. Ouvem-se murmúrios, lamentações, dores ou simplesmente um pedido de atenção. Vejo aquela sala cheia de gente esquecida, perdida num qualquer limbo. Os dias são passados deitados na cama de um quarto semi escuro, sentados num sofá sem qualquer interacção com as demais pessoas ou numa mesa tentanto levar a colher á boca mastigar a comida.
Tenho medo de um dia estar como estes velhos, esquecidos, abandonados e sós. Tenho medo de estar consciente da solidão e de viver no meio de fantasmas. Tenho medo de não ter ninguém com quem falar ou alguém que me visite de vez em quando para me contar uma qualquer história feliz. Mas acima de tudo tenho medo de querer morrer e ser obrigada a assistir á minha degradação fisica e mental sem poder fazer nada.

Talvez no futuro os amigos se juntem para envelhecer e morrer acompanhados. Se há umm desejo que tenho é estar perto das pessoas queridas nestes ultimos passos antes do final de uma vida feliz.

sábado, 15 de novembro de 2008

"a dificil arte de existir no mundo"

«(...) este medo de paragem, do não-poder-continuar, do ter de interromper para sempre, tinha estado presente durante toda uma vida, e não só no que dizia respeito á escrita como a todos os seus outros empreendimentos: ao amor, à aprendizagem, à participação- sobretudo a tudo o que exigia grande concentração. » Peter Handke "A tarde de um escritor"

O tempo engana. Volto a Penela e perco-me entra a rotinas diárias. Parece que o tempo nunca é suficiente para fazer tudo o que tinha planeado. Entre as pequenas obras em casa, as tarefas domésticas e as visitas ao Hospital a vida vai correndo. às vezes tenho essa sensação de interrupção de qualquer coisa. O constante deambular, a troca de cidades-países-amigos-linguas deixa-me algures num vacuo espacio- temporal, em lado nenhum e em vários sitios simultaneamente. Interrupções voluntárias ou não de uma certa rotina adquirida, rompe-se a familiariedade com as pessoas-sitios. O regresso nunca é um verdadeiro regresso mas um começar de um outro ponto de vida.
Será que andamos de momento em momento sem nos dedicar-nos verdadeiramente a um empreendimento? E os sentimentos? Será a amizade uma sucessão de momentos (bem ou mal passados), intensidades, cumplicidades, partilhas para mais tarde esquecer e pôr na caixinha das memórias que evocamos á distancia da saudade?
E os amores/ paixões?? O que resta de nós e do outro?
Será que chegamos a um ponto tal que não nos conseguimos dedicar verdadeiramente a nada nem a ninguém?