quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Velhice, esquecimento, abandondo e solidão

Caros amig@s,

quero partilhar com vocês a minha ultima experiência num centro de cuidados continuados. Estes centros funcionam como apoio a pessoas que saem dos hospitais e não têm condições para voltar para as suas casas. A minha tia teve um problema no joelho este ano e depois de uma aparente recuperação voltou para o hospital em estado grave. Ela encontra-se fora de casa desde Agosto, passou pelo Hospital dos Covões, o centro de cuidados continuados de Cantanhede e agora um perto de Penela. Tenho acompanhado a sua recuperação e as inúmeras visitas obrigam-me a enfrentar a dura realidade da velhice.
Vejos pessoas abandonadas pelas suas familias numa cama de uma instituição onde muitas vezes os cuidados não são suficientes e a formação das pessoas que aí trabalham bastante questionável. Numa sala impessoal juntam-se pessoas com rugas e tristezas, olhares perdidos fixando outras memórias. Assisto a esta solidão partilhada nos sofás do salão com a televisão como pano de fundo. Ninguém presta atenção á tal caixinha, parece que ninguém ali fixa o olhar no que quer que seja. Ouvem-se murmúrios, lamentações, dores ou simplesmente um pedido de atenção. Vejo aquela sala cheia de gente esquecida, perdida num qualquer limbo. Os dias são passados deitados na cama de um quarto semi escuro, sentados num sofá sem qualquer interacção com as demais pessoas ou numa mesa tentanto levar a colher á boca mastigar a comida.
Tenho medo de um dia estar como estes velhos, esquecidos, abandonados e sós. Tenho medo de estar consciente da solidão e de viver no meio de fantasmas. Tenho medo de não ter ninguém com quem falar ou alguém que me visite de vez em quando para me contar uma qualquer história feliz. Mas acima de tudo tenho medo de querer morrer e ser obrigada a assistir á minha degradação fisica e mental sem poder fazer nada.

Talvez no futuro os amigos se juntem para envelhecer e morrer acompanhados. Se há umm desejo que tenho é estar perto das pessoas queridas nestes ultimos passos antes do final de uma vida feliz.

1 comentário:

  1. Mesmo que no futuro os amigos se juntem na velhice...ninguém se junta para morrer (por mais que assim o pareça)...
    As pessoas juntam-se para viver o tempo que resta até a morte atacar!
    A certeza da morte (aliás a única certeza que é verdadeira, tudo o resto são hipóteses abrangidas por um momentâneo delírio de exactidão e certeza)é uma constante, a velhice é apenas o medo da sua proximidade.
    Mas seria demasiado presunçoso aos 20 anos preocuparmo-nos com o que nos pode afectar aos 60 quando podemos morrer aos 30...
    Quando falo em preocuparmo-nos, falo em PRÉ OCUPAÇÕES...
    Acho essencial o constante questionamento da nossa existência, mas abdicarmos dela para nos pré-ocuparmos com coisas que ainda não nos ocupam é um desgaste fútil e desnecessário!...é termo-nos em demasiada boa conta...em cima de um pedestal...quando a vida é pa ser vivida cá em baixo, junto dos MORTAIS!
    Um beijo para ti...e uma companhia para a tua tia*

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